terça-feira, 12 de maio de 2020

Embarcando no recomeço

Estamos num barco
Procurando terra firme
A bússula gira loucamente
Sem que a direção se confirme

Olho através da luneta
Ao longe há um recomeço
Consulto os escritos na caderneta
Trazida pelo viajante do tempo

Observo o movimento das ondas
As palavras que falam sobre ascensão
Um longo caminho por entre cordilheiras
Desafio maior, chamado à união

Nesse vai e vem do navio
Que já dura mais de um ano
Vejo que o mundo encolherá
Como a água que evapora do oceano

O futuro será de luta por recursos
Entre os sobreviventes do naufrágio
Quem viver verá a tesoura do destino 
Cortar essa linha tênue e frágil

Quem sobreviver à ruptura
Viverá um amanhã de reconstrucão
Verá surgir uma nova tessitura
Das cinzas de muitas nações










segunda-feira, 11 de maio de 2020

Tecelãs de Destinos

O futuro é uma teia
De intrincados fios
Tantos grãos de areia
Repousando no leito dos rios
Que é difícil perscrutar o eixo
Das infindas prossibilidades

O tempo são aranhas
Tecelãs de quânticos destinos
Dos neurônios de nossas entranhas
Fazem nascer neutrinos
E de um casulo fantasmagórico
Renascemos noutra dimensão

domingo, 3 de maio de 2020

Fora do tempo

Estamos vivendo
Dentro de uma bolha

Enquanto ela permance
Ainda temos escolha

Mas o tempo voa, veloz
Urge mudanças no agora

Diz que estamos dentro dele
E ao mesmo instante fora

Partículas taquiônicas escorrem
Pelo vidro quebrado da ampulheta

A ressonância Schumann ruge
Acelera toda vibração no planeta

Dentro e fora, em várias direções
Múltiplas dimensões despertam


quinta-feira, 5 de março de 2020

Levadices e traquinagens

A minha infância sempre foi
De muita levadices e traquinagens
Uma bela farofa de palha assada
Com leve toque de azeitona verde
Pra dar gosto à vida e deixar com sede

Há coisas que esqueci e agora lembro
Memórias trancadas em um baú de ébano
Nas entranhas terrenas, leito sereno do oceano
Zona abissal do quântico inconsciente

Tinha a chave ou a localização
Nunca os dois ao mesmo tempo
Sofria por não entender a tragédia
Intempéries e incertezas da vida
Vicissitudes das estações

Passou o tempo, cresceu o bambuzal
E ainda hoje sinto aquele eu em mim
Fazendo alquimias num laboratório
O primeiro presente de um cientista
As raízes que vão até o centro do mundo

Escrevo munido de emoções
Que apenas Capricórnio compreende
De meus arrependimentos, faço canções
E quem é que não se arrepende?

Só quem se arrepende é que arrebenta
Os estranhos limites da casca de noz
Causa o próprio big bang, se enfrenta
Domina o sentimento atroz
Faz brotar a semente 
Harmônica convergência 

















quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Metamorfose

Partículas carregadas
Carreadas pela ventania
Relâmpago vulcânico
Cinzas que já foram... Um dia

Caos que escorre 
Das mandíbulas da terra
Em meu coração... Titânico
Tudo começa onde se encerra

Ação que corrói
Dor que rói
Teatro grego... Tragicomédia
Dantesca epopéia

Sangue aspergido
Um rugido em meu rosto
Acidez sulfúrica... Vírus exótico
Auto-enganação nitroglicérica

Vívidas virgens poseidônicas
Água e sal em metamorfose
Contra a rocha, ondas sinfônicas
Geram vida por osmose


Arlequim

Escrevo
Que não sou escravo
E no papel eu cravo
A pena, sangra nanquim

No borrão disforme
Do caos nasce a consciência
Através do cósmico ovo
Seu nome é Arlequim


sábado, 18 de janeiro de 2020

Farfalhar

Como farfalham as folhas
Caídas dos galhos no outono
Assim são nossas escolhas
Se vagamos como um cão sem dono

As folhas assim farfalham
Quando esmagadas contra o solo
Mais parece que gargalham
Antes de cair no sono

Assim farfalham nossas falhas
Quando pisamos nos erros do passado
Quebram como cascas de ovos
Mas ferem como vidro quebrado