quinta-feira, 30 de agosto de 2018

A Jornada - Parte I

Vivemos, vivemos
Vivemos em frágil equilíbrio
E agora eu sinto o perigo
Ameaçando meu bem viver
Seus tentáculos tão longos
Não há como fugir
Só me resta encarar de frente
Desafiá-lo a um combate 
No tabuleiro de xadrez

Eu caminhei, caminhei
Eu caminhei bastante
Até meus sapatos ficarem gastos
A sola estava tão fina
Que um espinho atravessado
Rasgou, sangrou meu pé

Eu senti-me forte
E senti-me fraco
Fiquei no meio do equilíbiro
Dancei em corda bamba
No gume da navalha
Mais afiada que já vi

Eu senti aquela falha
Lacerar-me o cerne da carne
Eu procurei uma fonte de luz
Mas só encontrei escuridão e carma
Fiz apelos ao Altíssimo
E finalmente compreendi
Por que até o Mestre Jesus
Sentiu-se desamparado
Bem ali, no calvário

Eu estava balançando
Pendurado nas alturas
Também estive em queda livre
Em meio a uma tempestade de agruras
Acelerando, acelerando em gravidade
E o paraquedas não abria
Mas foi ali que descobri
Que eu sabia voar

O ato de virar o jogo
É pura força de vontade
Para moldar o encaixe da chave
Na porta da multidimensionalidade
Que sempre muda a fechadura
É realmente dura esta vida
Mas apenas até descobrirmos
Que é preciso imaginar o fim
Para que ele realmente aconteça

O futuro é uma teia de probabilidades 
Contou-me a Deusa do Destino
São cenários que beiram a verossimilhança
São universos paralelos da Jornada
E somente aqueles que dançam
Na insustentável leveza de Ser
Estremecem os fios da trama
E fazem tocar sinos dentro de si
É que podem moldar a lama na alma
Criar lindas cerâmicas
No batismo de fogo
Cura que incendeia
Nos deixa despertos
Fogaréu espiritual
Inenarrável

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