terça-feira, 27 de agosto de 2019

Versangues (II)

Meus órgãos hematopoiéticos
São onde nasce a poesia
Mais sangrenta e visceral

Ver sangue, eu vejo
E só de ver, sangro versos
Sangro em versangues
Com fluido cérebro-espinhal

Minhas vísceras têm neurônios
Minhas sinapses têm pseudônimos
Meu instinto animal subsiste

Tenho sangue nos olhos
Não por hemorragias, mas por destemor
De tanto ver sangrar palavras pelos poros
Tornei-me quase imortal em minha dor

O Clã Destino

Somos artistas neste mundo
Clandestinos desta embarcação 
Usurpada há mais de cem mil anos
Por quem tem as cordas na mão

Captamos sinais do além-tempo
Criamos a realidade em múltiplas dimensões
E por isso o destino deste clã terreno
Repousa em nossos brasões

Não sejamos aqueles que temem

Não mais sejamos clandestinos
Tomemos o controle do leme 
De nossos próprios destinos

Escrevo espalhado na luz das estrelas
Que sem fim viajam pela cósmica tessitura
Equilibrado na tênue linha das que podem antevê-las
As Nornas, que tecem as tramas da vida futura

Tecelãs de teias em linhas probabilísticas
Sabem que o porvir navega em rios paralelos
Que os filhos do Clã Destino são de façanhas malabarísticas
Enquanto unidos por inquebrantáveis elos



domingo, 11 de agosto de 2019

Sangue Ferruginoso

O meu sangue é tinta
Que uso para escrever
O oxigênio é meu tesouro
Esse gênio que dá saber
E me inspira quando irriga
O ecossistema quântico

Meu sangue é ferruginoso
E minha fé é férrea
Carregada por Hemácias 
Nascidas na medula óssea
Órgão hematopoiético
Sustentáculo vérvico 

Meu sangue é vivo
E transborda inspiração
Em mícricas partículas 
De pó ferromagnético
Que vibra ante os campos
De cósmica ressonância







sexta-feira, 9 de agosto de 2019

Giroscópio

Gira, gira, giroscópio
Gira, gira e me copia
Movimenta com alegria
Este meu solilóquio

Gira, gira, sem se exaurir
Numa louca giroscopia
Vamos partir na noite da alma
Chagaremos ao raiar do dia

Gira, gira, giroscópio
Não sai do equilíbrio
Mantém o prumo
Que o o prêmio chega
Quando menos se espera

O quiabo quieto

Que há!?
Que há, quiabo?
Tu és quiabo quieto
Se faz quiabo quietinho
E depois baba, babaquara
Baba na boca da panela
Se faz quieto... Quiabo surdo
Com seu verde maduro
Faz a maior bagunça
Na cozinha dela, no escuro

Versangues (I)

Há poetizas
Em meu sangue

São musas poemácias
Se me deixam, me sangram

Quando sangram de inspiração
Criam vívidos versangues 
Em estrofes arteriais

Meu coração tiquetaqueteia
Bate e rebate o fluido escarlate
Quão palavras correndo pelas veias